domingo, 1 de outubro de 2006

Dança da solidão

Sexta-feira passada estive a jantar em casa de um amigo. Uma noite muito bem passada, com uma companhia extremamente agradável, e uns petiscos de deixar água na boca. Também não se podia esperar outra coisa de um anfitrião daquele gabarito.
Conversa puxa conversa, e vai daí, surge o tema da solidão; a opção de viver sozinho versus a de arranjar alguém, mesmo que isso implique algum risco (isto para simplificar o assunto tão complicado e delicado).
Coincidentemente (ou não, pois nada acontece ao acaso), no dia seguinte li um artigo que não quis deixar de partilhar com quem se interessar pelo assunto, mas especialmente dedicado ao anfitrião da noite. Espero sinceramente que tudo corra como ele deseja e anseia, mas se... ( e aqui os se's são tantos que se a minha avó tivesse rodas era um camião) assim não for, e ele se encontrar perante a encruzilhada da vida, que reflicta muito antes de enveredar por um dos caminhos.

"... O livro* trata, afinal, de um tema muito - perdoem-me o horror da expressão - peixotiano: a solidão contemporânea. Sempre que me aventuro pelos corredores do metro sinto-me rodeada de pessoas sós. Impressiona-me o paradoxo: multidões de solitários. Movemo-nos entre gente ansiosa por uma simples palavra de afecto; mulheres que aprendem a miar para poderem conversar com o gato.
(...)
Há pessoas tão sozinhas que até as piores companhias lhe parecem boas. Na novela de José Luís Peixoto*, como na realidade, as pessoas estão dispostas a acreditar em qualquer coisa que lhes permita romper o amargo círculo da solidão. Estão dispostas, inclusive, a ser outra pessoa - a pessoa que os outros esperam que elas sejam.

Nesta dança da solidão, para citar uma das mais belas canções de Paulinho da Viola ("Solidão é lava que cobre tudo / Amargura em minha boca / Sorri seus dentes de chumbo"), há quem arrisque passos em falso, quem se entregue ao primeiro apelo, quem, desastradamente, por terror ou ansiedade, pise os pés do improvisado par.
(...)
Trocamos, por vezes, informação muito íntima. Mas não trocamos afecto. O que os personagens de Minto ao Dizer que Minto* fazem é algo assim: estão aos gritos no meio da multidão. E estão sozinhos. Irremediavelmente sós.

Triste destino."

Excerto da Crónica de Faíza Hayat, in Revista XIS, 23 set 06
*Referencia ao livro recentemente editado, Minto ao Dizer que Minto de José Luís Peixoto

O Homem não foi feito para viver sozinho, é isso que afirmo com a maior das convicções!

3 comentários:

Anónimo disse...

Maria,

Tenho a certeza de que o teu amigo se terá sentido bastante feliz com a tua presença e com as tuas opiniões sobre o que alguma coisa a ele possa dizer respeito, por cru, doloroso, verdadeiro que possa ser, porque potênciada a frase “ Os amigos são para os bons e para os maus momentos “, transformo-a noutra que prefiro “ Os amigos não são os que nos dizem o que queremos ouvir, mas nos dizem o que pensam “. Proporcionada a opção “ comentários “ em cada blog e de passagem pelo teu, sempre te digo o que penso sobre isso: a solidão não é, não acredito que seja, um propósito. É uma condição temporária que se pode tornar definitiva. Enquanto sós por circunstâncias voluntárias ( e a expressão “ por opção “ não me merece respeito, considerando apenas o ter deixado alguém ) ou involuntárias ( alguém nos ter deixado ), essa solidão deve ser por um período, elevada, vivida, usufruída até, no sentido de um encontro com quem somos, com o que queremos, com a forma de estarmos bem com todos os ingredientes naturais da nossa constituição. Implica dor, sofrimento, mau estar? Também pode implicar sim, mas nesse sentido de que a tristeza faz tanto parte da vida quanto a alegria, podemos erguer-nos depois para nós próprios e dar a nossa luz aos outros. Aos amigos, aos amores que queremos, ansiamos encontrar. Quero estar bem comigo, para dar o meu melhor a quem está ao meu lado, para ser em pleno quem sou e poder amar e ser amado em todas as divisões da minha alma e percorrer os recantos da outra que comigo fará esse amor livre que não acontece só na cama. Que não se fale sozinho com o gato, mas que também não se dê “ méééés “ para o rebanho, que a individualidade é o que nos torna únicos nesta crescente vulgaridade. Não sei sobre o teu outro amigo, mas este garante-te esperança, luminosidade e sempre um sorriso porque a sua estrada terá sempre flores na berma, jamais será um túnel escuro…

Um dia tens de ir jantar lá a casa… Bj.

Anónimo disse...

...eu e os meus nós na garganta que pouco me deixam dizer.


Estou no meio dessa multidão que por aí anda todos os dias...porque sinto e toco e ouço quem por esses caminhos também passa.Estou aqui...encosto-me e deixo-me ficar com alguma paz e alguma tristeza também.




Lindíssimas palavras...

Anónimo disse...

...agradecendo também as coisas bonitas que deixou no espaço da Sóniaq...do fundo do coração,muito obrigada.

Um beijinho
Ana.